quarta-feira, 25 de junho de 2008

Portugal, paraíso da "Democracia dos Interesses"


A Democracia não é “coisa” que se herde.
A Democracia constrói-se no dia a dia, e só é possível com a participação activa de todos nós, Cidadãos. A falta de participação dos Cidadãos na vida pública, tem permitido que o seu espaço de influência esteja a ser ocupado pelos vários lobbies de pequenas elites minoritárias, que apenas procuram a defesa dos seus interesses. Este desequilíbrio de forças, tem vindo a enfraquecer o poder político, tornando-o demasiado dependente do poder económico e incapaz de governar para os Cidadãos.


Esta ruptura entre a classe política e os Cidadãos é preocupante, e trará consequências graves a curto prazo para o País. A ausência de sentido de Serviço Público, está a permitir a delapidação acelerada dos nossos recursos e a pôr em causa os nossos valores. Os Cidadãos, deixaram de ser tidos em conta, tornaram-se simples figurantes de uma “farsa” que tenta esconder as dificuldades do país real e o estado avançado de degradação do mesmo. A conquista do poder deixou de estar dependente de ideias de civilização e progresso. As ideologias têm-se vindo a diluir. A esquerda, a direita e o centro confundem-se. A luta pelo poder é uma constante e depende de verdadeiras campanhas de marketing financiadas pelo capital. Esta dependência do dinheiro e a forma como os partidos são financiados, tem fragilizado os partidos, e permitido que seja o “bloco de interesses” a governar, com total prejuízo para o País e para a maioria dos Cidadãos. A Democracia dos Cidadãos deu lugar à “Democracia dos Interesses”. Valores estruturais da Democracia, como o respeito, a legalidade, a solidariedade, estão a tornar-se obsoletos. O que começa a ser banal na nossa sociedade é a mentira, a irresponsabilidade, a incúria, os “desvios”, a “suspeita de corrupção”...


Os mecanismos da nossa Democracia e as suas Instituições perderam efeito prático, não passam de uma pró-forma sem qualquer valor e influência. Esta “espécie de Democracia”, tem servido inclusive como “ferramenta de marketing” vulgarmente utilizada pelo poder político para justificar toda uma série de atropelos aos Direitos dos Cidadãos. Exemplo disto mesmo é o recente projecto adjudicado para a conclusão da CRIL (troço Nó da Buraca – Pontinha). O Governo propõe um traçado aos SSS, atirado literalmente para cima de áreas consolidadas de habitação, com total desrespeito pelas normas de Segurança Rodoviária, e com graves prejuízos para a qualidade de vida de dezenas de milhar de Cidadãos. Tudo isto, quando existem terrenos livres (grande parte do Estado) para fazer a estrada a direito, onde todos estes problemas seriam evitados.


O problema é que para esses terrenos livres estão projectados vários empreendimentos imobiliários com uma dimensão superior à Cidade de Bragança. Negócio de milhões (veja o site www.cril-segura.com e comprove este escândalo)....Não bastando isto, o Governo também não se coíbe de violar a Declaração de Impacte Ambiental, em total desrespeito pela lei e pela participação cívica dos Cidadãos em sede de Consulta Pública. Este processo da CRIL é demonstrativo da incapacidade do poder político, perante as pressões dos promotores imobiliários envolvidos nesse projecto (urbanização Falagueira / Venda-Nova). E, assim, com a capa da Democracia e em nome do Interesse Público, transforma-se a CRIL – obra de extrema importância para a Área Metropolitana de Lisboa – numa “estrada de serventia” para valorizar futuros empreendimentos imobiliários. A Democracia e o Progresso do nosso País não se constrói a vender “gato por lebre” e com marketing. Constrói-se com Competência, Rigor e com os Cidadãos. O futuro está nas nossas mãos e só depende de nós!

Jorge Alves
Jornal – Conversas de Café
www.conversasdecafe.pt
Foto: JCF

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