sexta-feira, 4 de julho de 2008

A CRIL DO EMBUSTE E A FORÇA DA CIDADANIA

O projecto adjudicado para a conclusão da CRIL é um bom exemplo da impotência do governo perante pequenas elites minoritárias, que detêm o poder económico, cuja influência se sobrepõe ao próprio poder do Estado.

O governo, para salvaguardar interesses privados, propõe-se fazer uma estrada aos esses, com três curvas perigosas, “em cima” das populações, comprometendo de forma irreversível a eficiência e a segurança rodoviária, assim como a qualidade de vida de dezenas de milhares de moradores.

Tudo isto é tão mais grave, tendo em conta que existem terrenos livres (grande parte do Estado) para fazer a estrada a direito. O problema é que para esses terrenos livres está projectada uma urbanização (Falagueira / Venda-Nova) com uma dimensão maior que a cidade de Bragança. Assim, e com o dinheiro dos contribuintes, transforma-se uma obra de Interesse Público numa “estrada de serventia” para valorizar futuros empreendimentos imobiliários.

Perante este poder autocrático que está acima da lei, e o avanço das máquinas para iniciarem demolições de casas no Bairro de Santa Cruz de Benfica, nós moradores conscientes da importância do nosso dever de intervenção cívica, decidimos não ficar de braços cruzados. Por volta das 9 horas, do passado dia 30, assim que a máquina começou a avançar, subimos ao telhado e, em acto simbólico colocámos uma Bandeira Nacional na chaminé da casa e cantámos o Hino Nacional juntamente com a população que estava no local. A máquina parou. A Bandeira e o Hino pretenderam, simbolicamente, responsabilizar todos aqueles que juraram lealdade ao país e à Constituição, e que não estão a cumprir o juramento.

No sentido de impedir este acto ilegal, chamámos a Polícia Municipal de Lisboa que, pouco tempo depois chegou ao local, parecendo não saber o que fazer. Por volta das onze horas, chegou ao local José Luis Faleiro, coordenador da obra a cargo da Estradas de Portugal, que se recusou falar com os moradores. Passado pouco tempo, dirigiu-se à polícia, apontando na nossa direcção. De seguida, este senhor passou por nós, com ar ameaçador, dirigindo-se para o local onde estava a máquina, dando ordens para a mesma avançar com a demolição do anexo que estava ligado à casa em que nos encontrávamos. Para nossa surpresa, e perante a passividade da Polícia Municipal, a demolição recomeçou de imediato, destruindo por completo o anexo.

Durante este período, sentimos que a qualquer momento poderíamos ser atingidos por alguns dos destroços que por vezes saltavam, e receámos que o telhado abatesse, visto este ter mais de 50 anos, e algumas das telhas terem estalado, e saltado com a vibração. Após o anexo, ter sido demolido por completo, a máquina parou. Não sabemos se por desobediência do homem da máquina, ou por compaixão de José Luis Faleiro! Perante esta “cena tipo faixa de Gaza”, decidimos só sair do telhado, após a chegada da nossa advogada, o que demorou cerca de duas horas, para que esta pudesse tomar a devida nota de todo este acto ilegal e irresponsável .

Assim que saímos do telhado, a máquina avançou de imediato com a demolição da casa, não se preocupando com a Bandeira Nacional que tínhamos deixado hasteada no telhado. Só após um morador ter-se indignado e alertado, a máquina parou e alguém da obra foi retirar a bandeira. Perante tudo isto, e a passividade do Presidente da República, e para que a nossa Democracia não fique mais moribunda, é nosso dever e obrigação, denunciar todos aqueles que estão de alguma forma a comprometer o nosso presente e o futuro dos vindouros.
Só com a nossa participação cívica activa podemos aspirar a um futuro melhor.


Jorge Alves / Jornal Conversas de Café
www.conversasdecafe.pt
Fotos: João Cláudio Fernandes

1 comentário:

Papa Léguas disse...

Apenas uma questao..quando se fala em destruiçao do Bairro de Santa Cruz, concretamente quantas casas vao ser efectivamente demolidas?